quinta-feira, novembro 01, 2007

Terceira: Um Mundo (azul) à parte

A “ilha lilás” confunde-se com o azul que a rodeia. Subir à Serra de Santa Bárbara e olhar para o infinito dá-nos vontade de gritar: “Sou o rei do mundo”! Mas não o fazemos, para não perturbar o silêncio que nos preenche e envolve a ilha.

O título parte, assumidamente, de um ‘cliché’. Mas foi essa mesma a sensação quando chegámos. Pode não ser imediata. Se a visita for curta, de dois ou três dias, pode até dizer que contornou toda a ilha, mas não chega, com certeza, para ver tudo o que a Terceira tem para oferecer.

Conhecida como “a ilha lilás”, pelos lilases que dão cor à terra quando florescem, foi a terceira ilha dos Açores a ser descoberta e tem na sua capital, Angra do Heroísmo, a primeira cidade europeia do Atlântico. Esta cidade, ponto de partida para a descoberta da ilha, “a primeira cidade do novo mundo”, como lemos num folheto de informação turística sobre a região, tem uma área com cerca de seis quilómetros quadrados classificada pela Unesco como Património da Humanidade, desde 1983. A zona, no centro da cidade, integra o vulcão já extinto do Monte Brasil e uma parte do centro antigo de Angra.

Em Angra podemos desde logo revisitar a história da cidade, com monumentos e ruas que descrevem a sua memória. Desde o Castelo de São João Baptista, passando pelo Palácio dos Capitães Generais, pela Sé Catedral, pelo Solar da Nossa Senhora dos Remédios, até uma visita ao Jardim Público, há muito para visitar.


Apesar de ser o Faial “a ilha azul”, pelas hortênsias da mesma cor características da região, a Terceira, “a ilha lilás”, confunde-se também com o azul que a rodeia, e Angra do Heroísmo é apenas o ponto de partida, de onde começamos a percorrer a ilha, junto ao mar.

Seguimos viagem

Até aqui, já podemos ter perdido, ou melhor, ganho várias horas ou dias, e podíamos continuar por ali. Mas seguimos. De Angra, vamos para oeste. Depois de passarmos por São Mateus da Calheta, onde podemos dar um mergulho na piscina oceânica, chegamos a Cinco Ribeiras, já na zona ocidental da ilha, à Gruta das Cinco Ribeiras. O acesso é feito directamente pela costa para uma gruta subaquática a partir da qual podem ser observadas mais de cem espécies, isto, é claro, com o fato de mergulho vestido.

Já que estamos tão perto, subimos à Serra de Santa Bárbara. A estrada é sinuosa, com bastantes curvas, mas a viagem compensa. Se o tempo o permitir, do topo do imperial cume podemos avistar toda a ilha, e uma imensidão em redor.

Na descida regressamos à costa, passamos por Doze Ribeiras, perdemo-nos mais uma vez a olhar para o azul e retomamos caminho. “Baleia à vista!”. Não vimos nenhuma, mas devia ser assim que gritavam os homens na Vigia da Baleia, de onde se vê também uma paisagem fora do comum.

Deixámos para trás as formações vulcânicas dos Biscoitos, Quatro Ribeiras, já na costa norte da ilha Terceira, e voltamos a aventurar-nos para o interior, para visitar as Furnas do Enxofre e, ainda antes de voltar para mais próximo do mar, passamos pelo Algar do Carvão, reserva natural geológica. Já estamos a cerca de 100 metros de profundidade, quando chegamos a uma lagoa e olhamos ainda as estalactites que pendem do tecto da gruta. Saímos do vulcão e respiramos.

A caminho do outro concelho da Ilha Terceira, a Praia da Vitória, vemos o nosso ponto de chegada, o Aeroporto Internacional das Lajes, mas o olhar desvia-se rapidamente, porque queremos continuar por ali.

Chegados à Praia da Vitória descansamos na areia. A sensação divide-se entre o imenso do muito que já vimos e o que ainda queremos viver naquele lugar especial. Por agora, ficamos a olhar para o azul.

Publicado na edição de Outubro de 2007 da revista Ambitur.