"Qual a diferença entre xiitas e sunitas?"
Xiitas
Os xiitas (em árabe shi'a) constituem uma das duas grandes seitas do Islão, criadas com o Cisma que dividiu os fiéis do profeta Maomé, após a sua morte. Literalmente, a palavra "xiitas" significa "partidários de Ali" - o genro do profeta Maomé, que estes muçulmanos acreditam ser o verdadeiro sucessor do Mensageiro de Alá.
Na história recente islâmica, os xiitas eram uma facção política que apoiava o poder de Ali Abu Talib (que casou com Fátima, filha de Maomé), quarto e último califa eleito (governador civil e espiritual) da comunidade muçulmana. Ali tornou-se califa com o apoio, entre outros, dos assassinos do terceiro califa, Uthman, o que fez com que não tivesse obtido a obediência e fidelidade de todos os muçulmanos.
Ali foi assassinado e, a partir daí, os xiitas empenharam-se na defesa da legitimidade religiosa e política dos seus descendentes.
Durante séculos, o movimento xiita teve uma influência decisiva sobre o Islão, apesar da sua posição minoritária. Em finais do século XX, existiam entre 60 e 80 milhões de xiitas, representando um décimo de todo o Islão. Com o tempo, os xiitas dividiram-se em várias seitas semelhantes (entre as quais os ismailitas). O desejo de que os descendentes de Ali se tornassem os líderes do mundo islâmico nunca foi realizado, já que os sunitas sempre foram mais numerosos e expressivos.
Países onde os xiitas são a fé maioritária: Irão (esmagadora maioria, com cerca de 90 por cento) e Bahrein (embora o poder esteja na mão dos sunitas).
São uma minoria significativa no Iraque, Iémen, Síria, Líbano, Arábia Saudita, Índia e Paquistão.
Sunitas
Grupo maioritário do Islão, que domina quase continuamente desde o ano 661, onde representa cerca de 90 por cento dos fiéis.
Os sunitas começaram por defender o califado de Abu Bakr, um dos primeiros convertidos ao Islão e discípulo de Maomé, contra Ali Abu Talib. Geralmente, aceitavam de boa vontade a liderança de qualquer califa ou dinastia de califas desde que proporcionasse o exercício apropriado da religião e mantivesse a ordem no mundo muçulmano.
Os sunitas afirmam representar a continuação do Islão tal como foi definido através das revelações de Maomé e da vida do profeta. O nome sunita vem de "suna" - palavras e acções do profeta Maomé.
Muitos pensam que os sunitas representam a interpretação ortodoxa e correcta do Islão, enquanto as restantes fés se desviam desta interpretação.
Apesar de respeitarem Ali, os sunitas não o consideram como o único verdadeiro continuador da tradição de Maomé nem o vêem como um representante terreno do profeta.
Quais as diferenças de fé entre xiitas e sunitas?
A nível teológico, existem algumas grandes e muitas pequenas diferenças entre sunitas e xiitas. Os dois ramos partilham apenas três doutrinas: a individualidade de Deus, a crença nas revelações de Maomé e a crença na ressurreição do profeta no Dia do Julgamento.
Os "hadith" (as palavras e actos de Maomé e dos primeiros muçulmanos, usadas como suplemento ao Corão, para compreensão do Islão) são diferentes para sunitas e xiitas, dando os primeiros grande importância à peregrinação a Meca, enquanto os segundos dão também muita importância a outras peregrinações.
Os xiitas usam geralmente o termo Imã apenas quando se referem a Ali e aos seus descendentes, ao contrário dos sunitas. Os xiitas acreditam nos imãs que, como descendentes de Maomé e Ali, são vistos como seres com algo de divino. Os sunitas, por seu lado, acreditam em tradições baseadas em escolas teológicas e jurídicas que envolviam analogias do Corão e dos "hadith".
Algumas características particulares dos xiitas: a dissimulação da fé em público, de forma a evitar problemas sociais, é permitida, desde que mantida em privado; existe um casamento temporário, onde o contrato celebrado estabelece um período de tempo entre um dia e 99 anos; estes casamentos temporários podem envolver ou não sexo e/ou o pagamento de dinheiro. De acordo com a crença xiita, o homem que conseguir realizar quatro casamentos deste género assegura um lugar no Paraíso.
Sofia Branco
Publico.pt, 7 de Junho de 2001
Os xiitas (em árabe shi'a) constituem uma das duas grandes seitas do Islão, criadas com o Cisma que dividiu os fiéis do profeta Maomé, após a sua morte. Literalmente, a palavra "xiitas" significa "partidários de Ali" - o genro do profeta Maomé, que estes muçulmanos acreditam ser o verdadeiro sucessor do Mensageiro de Alá.
Na história recente islâmica, os xiitas eram uma facção política que apoiava o poder de Ali Abu Talib (que casou com Fátima, filha de Maomé), quarto e último califa eleito (governador civil e espiritual) da comunidade muçulmana. Ali tornou-se califa com o apoio, entre outros, dos assassinos do terceiro califa, Uthman, o que fez com que não tivesse obtido a obediência e fidelidade de todos os muçulmanos.
Ali foi assassinado e, a partir daí, os xiitas empenharam-se na defesa da legitimidade religiosa e política dos seus descendentes.
Durante séculos, o movimento xiita teve uma influência decisiva sobre o Islão, apesar da sua posição minoritária. Em finais do século XX, existiam entre 60 e 80 milhões de xiitas, representando um décimo de todo o Islão. Com o tempo, os xiitas dividiram-se em várias seitas semelhantes (entre as quais os ismailitas). O desejo de que os descendentes de Ali se tornassem os líderes do mundo islâmico nunca foi realizado, já que os sunitas sempre foram mais numerosos e expressivos.
Países onde os xiitas são a fé maioritária: Irão (esmagadora maioria, com cerca de 90 por cento) e Bahrein (embora o poder esteja na mão dos sunitas).
São uma minoria significativa no Iraque, Iémen, Síria, Líbano, Arábia Saudita, Índia e Paquistão.
Sunitas
Grupo maioritário do Islão, que domina quase continuamente desde o ano 661, onde representa cerca de 90 por cento dos fiéis.
Os sunitas começaram por defender o califado de Abu Bakr, um dos primeiros convertidos ao Islão e discípulo de Maomé, contra Ali Abu Talib. Geralmente, aceitavam de boa vontade a liderança de qualquer califa ou dinastia de califas desde que proporcionasse o exercício apropriado da religião e mantivesse a ordem no mundo muçulmano.
Os sunitas afirmam representar a continuação do Islão tal como foi definido através das revelações de Maomé e da vida do profeta. O nome sunita vem de "suna" - palavras e acções do profeta Maomé.
Muitos pensam que os sunitas representam a interpretação ortodoxa e correcta do Islão, enquanto as restantes fés se desviam desta interpretação.
Apesar de respeitarem Ali, os sunitas não o consideram como o único verdadeiro continuador da tradição de Maomé nem o vêem como um representante terreno do profeta.
Quais as diferenças de fé entre xiitas e sunitas?
A nível teológico, existem algumas grandes e muitas pequenas diferenças entre sunitas e xiitas. Os dois ramos partilham apenas três doutrinas: a individualidade de Deus, a crença nas revelações de Maomé e a crença na ressurreição do profeta no Dia do Julgamento.
Os "hadith" (as palavras e actos de Maomé e dos primeiros muçulmanos, usadas como suplemento ao Corão, para compreensão do Islão) são diferentes para sunitas e xiitas, dando os primeiros grande importância à peregrinação a Meca, enquanto os segundos dão também muita importância a outras peregrinações.
Os xiitas usam geralmente o termo Imã apenas quando se referem a Ali e aos seus descendentes, ao contrário dos sunitas. Os xiitas acreditam nos imãs que, como descendentes de Maomé e Ali, são vistos como seres com algo de divino. Os sunitas, por seu lado, acreditam em tradições baseadas em escolas teológicas e jurídicas que envolviam analogias do Corão e dos "hadith".
Algumas características particulares dos xiitas: a dissimulação da fé em público, de forma a evitar problemas sociais, é permitida, desde que mantida em privado; existe um casamento temporário, onde o contrato celebrado estabelece um período de tempo entre um dia e 99 anos; estes casamentos temporários podem envolver ou não sexo e/ou o pagamento de dinheiro. De acordo com a crença xiita, o homem que conseguir realizar quatro casamentos deste género assegura um lugar no Paraíso.
Sofia Branco
Publico.pt, 7 de Junho de 2001