Um caso de falta de ética jornalística
O caso em questão não é uma notícia concreta ou um facto isolado, mas sim um fenómeno que de há uns tempos para cá tem sido política de algumas estações televisivas nacionais, que já suscitou alguma polémica e que a meu ver constitui um caso de falta de ética jornalística.
Há uns anos existia apenas a estação pública, a actual RTP, e muitos telespectadores portugueses têm ainda isso bem presente na memória. Só os mais jovens não se recordam desse tempo. Para o que nos interessa: o público habituou-se à informação às oito da noite. Às 20 horas é hora de arrancar o Telejornal. As televisões privadas seguiram o exemplo e inicialmente assim foi: às 20h vai para o ar o boletim noticioso mais importante do dia.
O que na minha opinião não é de todo aceitável é que a partir de determinada altura as estações privadas tenham como política habitual iniciar os seus telejornais[1] dois ou três minutos antes da hora certa. Tornou-se vulgar vermos os telejornais começarem às 19h58 ou 19h57 sem qualquer critério rigoroso.
Considero este um caso de falta de ética jornalística e isso é mais claro se pensarmos que ética é lealdade. O jornalista assume um contrato de lealdade, um compromisso para com o público, as fontes e os visados na prática noticiosa. A motivação que o jornalista tem deve ser o respeito que ele tem com um compromisso de lealdade. O público espera que o jornalista lhe seja “leal”, seja ético nesse sentido. O interesse do público deve ser satisfeito pelo jornalista, isso é certo, mas tem de existir rigor e coerência por parte do órgão informativo.
A concorrência tem aspectos positivos mas revela aqui o seu lado menos bom. Seria “desculpável” este lapso de rigor se os visados invocassem o absoluto e nobre dever de informar o público, mas é obvio que aqui o que fala mais alto são as questões do foro empresarial e não as do código deontológico. “O jornalista deve manter uma atitude independente e crítica perante todos os poderes estabelecidos, mas nunca de forma preconceituosa, ressentida, sistematicamente hostil e obsessiva"[2]. O caso aqui em análise é um exemplo de como os valores concorrenciais falam mais alto e são um exemplo de falta de ética jornalística para com o público com o qual o jornalista deve assumir um compromisso de lealdade.
[2] PÚBLICO, “Princípios e Normas de Conduta Profissional” in Livro de Estilo Público, 2005
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